quarta-feira, 5 de abril de 2017

Alma não digital

As pessoas ainda são feitas de carne e osso? 
Ainda temos coração para pulsar, alma para sentir? Ou tudo já está arquivado em memória digital, em algum grande computador governamental?
Pessoas ainda se apaixonam? Acreditam em amor? 
Pessoas se relacionam genuinamente? Ou tudo não passa de um uma aplicativo qualquer?
Pessoas ainda existem? Ou são todos robôs, programados para uma noite, um orgasmo, um interesse e só?

Pessoas passam na vida uma das outras. Entram, desordenam, saem e sequer olham para trás para visualizar a bagunça que fizeram.
Tratam como se fossem negociantes, políticos, mercadores, vendedores, corretores e vão deixando de lado a parte mais importante da história de conviver em grupo, sociedade ou par. Atravessam uma vida, como se tivessem CNPJ e o outro ainda tem que pagar imposto retido na fonte.
Interesses sempre falam mais alto, seja pelo que se veste ou pelo que se pode comprar. Seja interesse por um contrato, por um contato. Seja por um dia de satisfação ou por uma noite de prazer. 
As pessoas se tratam como objetos e se vendem e se deixam comprar como se estivessem a postos em enorme prateleiras de mercado, com seus dotes, estudos, decotes e músculos sobressaltados, numa vaidade que não tem absolutamente nada a ver com princípios e moral. 
Aliás, princípios e moral, que se mostram apenas em frases bem construídas, seja com aspas ou sem, em rede social, em pequenos textos que são engolidos diariamente como marketing numa dessas exposições de business center que os relacionamentos tornaram-se.

Sobra gente que fala bonito, que sorri em foto. 
Sobra gente que tem interesse e falta gente interessante.

Faltam olhares de verdade, daqueles que enxergam a alma e dentro dela toda a felicidade e angústia que um ser humano é composto por.
Falta encontrar defeitos e aceitá-los sabendo que o outro também o faz.
Falta olhar para dentro, e buscar no íntimo concreto a própria verdade e descobrir com ela o que se quer do mundo e do outro, antes de sair por aí usando quem quer que seja como apoio ou muleta para  uma falta de estrutura.
Falta coragem de encontrar nessa intimidade os defeitos homéricos e entender que não existe perfeição nem mesmo naquela pessoa que se acorda todos os dias vestindo a pele.
Falta vontade de corrigir os erros e sobra muita indecência em apontar no mundo o que impede a melhora individual.
Falta olhar para o restante do que não nos veste como seres tão necessitados quanto nós e entender que dentro de cada um existe uma guerra que é vencida todos os dias ao fechar os olhos ao anoitecer (e entender que a guerra acontece todos os dias).
Falta respeitar a intimidade, dignidade, dificuldade que a história do outro carrega.
Falta aprender a perceber o quanto mudamos os caminhos, a história, o sentido e tantas outras percepções, com uma frase, uma atitude, um instante qualquer que nos envolvemos.
Falta mesmo é responsabilidade por tudo que se pode causar na vida do outro onde bate um coração com um histórico diferente do nosso.  

Falta gente de carne, osso e alma.

Ou falta um aplicativo que detecte uma pessoa que seja verdadeira.

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